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Por que Parasita tem a ver com você, comigo e com toda a sociedade brasileira?


**Atenção: contém (um pouquinho) de Spoiler



Na última segunda-feira, as fortes chuvas castigaram São Paulo. As ruas ficaram completamente tomadas pela água e muitas pessoas tiveram suas casas invadidas pela enchente ou soterradas pelos deslizamentos de terra. Famílias inteiras perderam tudo o que tinham. Nas reportagens, um impacto: um senhor, em sua casa, alguns pertences e alimentos em cima de uma mesa, água pelos joelhos, móveis e eletrodomésticos submersos, respondeu ao repórter: “não vou sair daqui, se eu deixar a casa, ela será saqueada, roubarão de mim o pouco que tenho, além de eu não ter pra onde ir. Vou ficar aqui e esperar a água baixar”. SE.EU.SAIR.DAQUI.VÃO.ROUBAR.O.POUCO.QUE.TENHO. Essa fala ficou ecoando em minha cabeça, me entristeceu tanto...alguém que perdeu quase tudo, tem que arriscar sua vida e ficar para proteger da violência i pouco que lhe restou. Nessas horas nos damos conta do quanto somos privilegiados.

Um dia antes, no domingo, acontecia a festa mais glamorosa do cinema, o Oscar. Um dos grandes destaques, filme 4 vezes premiado, foi o Parasita. O filme sul-coreano retrata uma realidade incomodamente parecida com a brasileira: a discrepância entre dois cenários, enquanto uma família desfruta das compras no exterior, a outra não tem o que comer; enquanto uma aprecia a chuva caindo em seu quintal, a outra perde tudo numa enchente.

A família pobre que vive de trambiques para sobreviver, acaba conseguindo se infiltrar na casa da família rica. Enquanto empregados, estão submetidos a uma lógica capitalista de dominação: para manter seu segredo, comportam-se como tal, vão trabalhar no domingo, fazem hora extra, deixam seus problemas e assuntos pessoais de lado para não incomodarem ou serem invasivos com os patrões, cujo mundo é tão alienado que sequer conseguem imaginar os problemas pelos quais aquela família está enfrentando, o que o marido de sua empregada é perseguido por credores e vive em seu porão, escondido, enlouquecendo. Contudo, a única coisa que não conseguem evitar é o cheiro. A situação toda cheira mal mesmo, o mal-estar está dado. E irrompe em violência, como haveria de ser. Parasita é um filme necessário para questionarmos nosso lugar no mundo, quem parasita quem?

 
 
 

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