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O que é Síndrome de Burnout?


“Maria tem 33 anos, mãe de 2 filhos, casada e gerente de marketing numa empresa de grande porte. Todos os dias, acorda cedo, prepara o café das crianças e em menos de uma hora garante que a rotina matinal esteja cumprida. Pois às 7:30h as crianças precisam estar sentadas frente ao computador assistindo às aulas da escola que, no momento, estão on-line.

Em seguida, senta-se na frente de seu computador para dar início à sua jornada de mais 8h de trabalho em Home Office. Enquanto o telefone não toca, os e-mails não lotam a caixa de entrada e o horário da reunião não chega, ela se divide entre preparar o almoço, dar uma varridinha na casa, ajudar as crianças nas tarefas, pedir pro marido dar uma lavada na louça e voltar para frente do computador.

Aos fins de semana são inúmeros os afazeres, supermercado, faxina, entreter os pequenos, dar atenção ao marido e num pulo já é segunda-feira de novo. Não dá tempo de ter lazer, de descansar ou se dedicar a um hobby, já que as responsabilidades pesam um tanto.

Aos poucos, o corpo vai sentindo as consequências desse ritmo acelerado, a cabeça dói, os ombros estão tensos, o sono é agitado e a vontade de comer doce é desvairada. Emocionalmente as coisas também não vão tão bem, bate um desânimo, uma irritação e já não é possível se concentrar em quase nada.

Após alguns meses levando essa rotina, Maria dá entrada no hospital com taquicardia e sensação de desmaio, uma crise de ansiedade, reflexo de um problema muito maior, chamado Síndrome de Burnout.*”

Nos últimos tempos, devido à necessidade de conciliar diversas funções, como trabalho em Home Office que não tem horário pra acabar; tarefas domésticas que se intensificaram ainda mais durante o período de quarentena; dar suporte com a escola das crianças; reforço na higiene dos objetos e alimentos e muitas outras preocupações, o excesso de trabalho e o esgotamento advindo dele tem sido cada vez mais presente no dia-a-dia de muitas pessoas.

A síndrome de Burnout é caracterizada pelo esgotamento físico e emocional em decorrência do excesso de trabalho de forma crônica e prolongada. Seu nome, criado na década de 70 por um psicanalista nova-iorquino, deriva do termo em inglês to burn out, que significa queimar por inteiro, consumir, esgotar.

Os sintomas são físicos, emocionais e sociais e variam desde fadiga extrema, dores no corpo, dores de cabeça, problemas digestivos, perda de concentração e de memória, sentimentos de desesperança, alterações de humor, depressão, ansiedade e até afastamento dos amigos e familiares, dentre outros.

Por serem sintomas bastante difusos e se instalarem de forma crônica e gradual, a síndrome pode ser de difícil diagnóstico e, geralmente, a pessoa que sofre só se dá conta quando a situação já está grave. Mas lembre-se de que a síndrome de Burnout se instala após um período de stress crônico, por isso, não se preocupe se você só teve uma semana cheia e está cansado.

Os motivos que levam ao esgotamento têm a ver com a função social que o trabalho ocupa, com as exigências de alto desempenho impostas pela sociedade e com as características psíquicas de cada indivíduo.

O trabalho geralmente está relacionado à sobrevivência e sustento. Vê-lo ameaçado ou sentir que é preciso se esforçar cada vez mais para ter reconhecimento, gera medo de não conseguir ter dinheiro suficiente para sobreviver, alcançar objetivos ou dar conforto à família, motivo de muito stress.

Além disso, nossa cultura colabora para a alta produtividade. Ter momentos de pausa ou um trabalho que permita uma jornada reduzida pode ser visto pelos demais como preguiça ou fracasso. Quantas vezes não ouvimos frases populares que parecem ditar as regras de como todos deveriam viver, tais como: “o trabalho dignifica o homem”, “cabeça vazia é a oficina do diabo” ou “tempo é dinheiro”. Por mais que saibamos que não devemos dar ouvidos ao que os outros pensam, fica muito difícil ser indiferente a essa cobrança, principalmente quando o trabalho é encarado como símbolo de sucesso e status.

Há uma tendência muito grande em associarmos ao trabalho, grande parte de nossa identidade, ficando quase impossível se enxergar e se definir sem pensar em nossa profissão. Entre a maior parte das pessoas, predomina a associação entre autoestima e alto desempenho no trabalho, ou seja, muitos se esquecem de que o seu valor como pessoa não está diretamente relacionado ao quanto se produz.

Também existem aqueles que usam o trabalho como um antídoto ao sentimento de vazio e solidão, tamponado a falta e a angústia. É quase como afogar as mágoas num copo de cerveja, só que sem cerveja, com trabalho. Trabalha-se muito num ato inconsciente de evitar o confronto consigo mesmo e com suas questões mais difíceis de lidar.

Há também os que se consideram invulneráveis e insubstituíveis e assumem grandes cargas de trabalho, bem como, jornadas extenuantes. Exaustos, arrastam-se pelo dia de trabalho, temendo o fracasso. Assumir para si e para os outros que não está sendo possível dar conta do recado, seria um grande golpe no narcisismo, optando por continuar se esgotando para manter a equivocada sensação de que nada os derruba. Aqui, podemos entender este movimento a partir do conceito freudiano de pulsão de morte: o excesso de atividade que leva à autodestruição. Há um prazer inconsciente em ser um mártir, o esgotamento é sentido pelo sujeito como um ato de heroísmo, num movimento ambivalente entre autodestruição e satisfação.

Por fim, é importante ressaltar alguns fatores que ajudam a prevenir a síndrome de Burnout: reservar alguns momentos de lazer, de descanso, fazer atividades que tragam prazer e buscar manter contato com pessoas queridas; ter alguém com quem se possa dividir responsabilidades e delegar determinadas atividades, seja no trabalho ou com as tarefas domésticas; buscar compreender os motivos que te levam a trabalhar em excesso, sejam eles psíquicos ou sociais e suas consequências; se você é chefe, promover um ambiente de trabalho saudável, de diálogo e com metas possíveis de serem alcançadas, sempre respeitando a individualidade e as particularidades de cada membro da equipe; por fim, procurar ajuda profissional antes que o problema se instale de forma intensa.

*A história da Maria é fictícia e foi criada apenas para ilustrar os sintomas e situações que levam ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout.

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